Entrevista com Lucio Rennó, presidente da Codeplan
Em entrevista, Lucio Rennó, presidente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), fala sobre a atuação da instituição e as ações e planos para o fortalecimento da Companhia que, em 2016, completa 52 anos.
Lucio Rennó, que assumiu o cargo de Presidente da Codeplan em fevereiro de 2015, possui mestrado em Ciência Política pela Universidade de Brasília (1997) e doutorado em Ciência Política – University of Pittsburgh (2004).
Rennó fez pós-doutorado no Latin American and Caribbean Studies Center da SUNY Stony Brook e no German Institute for Global and Area Studies, em Hamburgo, Alemanha. O presidente é professor-adjunto do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília e já lecionou na Universidade do Arizona, Estados Unidos, e na Universidade Livre de Berlim, Alemanha.
Confira a entrevista:
Projeto Brasília 2060 – Brasília vem se desenvolvendo de forma complexa e enfrenta problemas relacionados à gestão e planejamento. O que tem sido feito para melhorar esse cenário? Existe ou está sendo discutida alguma política pública para melhorar o sistema de gestão no DF?
Lucio Rennó – O governo atual vem investindo na ação de aprimorar a capacidade de monitoramento da implementação das políticas públicas do Distrito Federal. O GDF [Governo do Distrito Federal] adotou técnicas bastante atuais de definição do mapa estratégico, com ações e metas a serem atingidas, definição e identificação de indicadores que refletem essas metas, além do acompanhamento continuado desses indicadores, por meio de metodologias avançadas que vêm sendo cada vez mais utilizadas na gestão pública.
Essas metodologias, de certa forma, são herdadas do setor privado e se adaptam ao setor público, a fim de que tenham uma capacidade mais rigorosa, precisa e correta de avaliação das políticas públicas adotadas pelo governo. Esse desenho de planejamento, implementado pela Secretaria de Planejamento e Gestão, é algo inovador dentro do DF.
A Codeplan atua nesse processo como uma instituição de pesquisa, acompanhando e calculando esses indicadores, além de auxiliar nessas análises, uma colaboração entre a Secretaria de Planejamento e a Codeplan no sentido de aprimorar a capacidade do Estado entender como tem sido a intervenção do poder público na vida cotidiana com indicadores empíricos concretos.
De que modo o senhor analisa o contexto atual do Planejamento Estratégico no Distrito Federal em relação à mobilidade urbana?
É essencial destacar que recentemente foi lançado pelo governo, por meio da Secretaria de Mobilidade Urbana, o Plano de Mobilidade Urbana. A ideia é que seja um plano de Estado e não de governo. O documento prevê ações de curto, médio e longo prazo, com intervenções no sentido de construção de obras e de aprimoramento das nossas rodovias e estradas, mas que não se limitam a isso.
O plano traz ideias novas, como a integração de diferentes modais de transporte, a priorização do transporte coletivo, além de estimular o transporte não motorizado em relação ao motorizado. É uma proposta bastante atual, moderna, e que, se implementada com sucesso nos próximos anos, trará importantes benefícios para a população do DF, em particular na questão do transporte público.
O projeto está traçado e vale ressaltar que ele parte de um ponto de vista de que o DF é mais integrado entre as suas regiões administrativas do que se tem ideia. A Codeplan teve um papel significativo nessa discussão por apontar essas mudanças que nós vamos percebendo nas formas de transporte e movimento da população no território do DF.
Apesar de ser predominantemente radial, ou seja, da periferia para o centro (aqui usados com uma conotação geográfica e não pejorativa), nós constatamos uma perspectiva cada vez mais circular entre as pessoas nas diferentes Regiões Administrativas e não só da periferia para o centro. É um cenário onde a cidade aparenta estar mais integrada e não apenas no movimento unidirecional no início da manhã e no final da tarde. Embora caiba destacar que esse ainda é o padrão dominante, por isso o Plano Piloto tem enfrentado cada vez mais problemas como o excesso de carros em suas vias.
O senhor está à frente da Codeplan desde fevereiro de 2015. Neste período, quais seriam as principais ações da companhia a serem destacadas?
Nós fizemos um esforço grande de continuação e manutenção dos principais projetos da empresa, então continuamos trabalhando na pesquisa distrital por amostra de domicílios e na pesquisa metropolitana por amostra de domicílios. São dois projetos que foram retomados e reiniciados pela gestão anterior, que são produtos importantes pro DF no processo de tomada de decisão, e estamos investindo no aprimoramento de pesquisas e de mecanismos de aprimoramento de coletas de dados.
Trabalhamos para o fortalecimento da equipe de pesquisadores da casa, com isso estamos produzindo pesquisas e análises sofisticadas metodológica e teoricamente nas nossas diretorias finalísticas de estudos e pesquisas socioeconômicas, de estudos urbanos e ambientais e de estudos e políticas sociais. Estamos com um corpo de técnicos extremamente gabaritados e que vêm produzindo conhecimento. Vale ressaltar que nós publicamos na nossa série textos para discussão – uma iniciativa que foi uma inovação da nossa gestão – trabalhos com mais profundidade e debate com a literatura específica e que trazem conhecimento novo sobre o Distrito Federal.
Também nessa gestão construímos um laboratório, que é na verdade uma rede de pesquisadores voltada para a análise de gestão pública, o Laboratório de Avaliação do Gasto Público (LAG/Codeplan). A proposta predominante do LAG é avaliar a qualidade do serviço público e a eficiência do gasto público no DF, também por meio de pesquisa utilizando diferentes fontes.
Uma dessas fontes, que também é algo inovador na gestão pública, é o uso de consultas à população por meio de pesquisas sociais por telefone. A Codeplan é a responsável pelas centrais de atendimento único ao cidadão do DF. Estamos utilizando essa central de atendimento para realizar consultas à população sobre temas específicos, como avaliação de serviços, mas também posições e preferências acerca de políticas públicas e propostas legislativas específicas.
A Codeplan organiza debates que propõem examinar, diagnosticar e pensar soluções para vários desafios de diversas áreas, envolvendo políticas públicas concretas. Fale um pouco sobre esses debates.
A proposta inicial dessa gestão foi transformar a Codeplan em um grande espaço de discussão dos temas significativos referentes ao DF e à sua área de influência, principalmente os municípios adjacentes, que a Codeplan denomina Área Metropolitana de Brasília, que envolve os 12 municípios adjacentes ao DF.
Com esse propósito inauguramos a série “Quintas Codeplan”, que traz convidados externos para falar sobre temas diversos. Também inauguramos, por meio da Diretoria de Estudos Urbanos e Ambientais, a série “Encontros Urbanos”. Além disso, também temos a série “Portas pro Futuro”, espaço em que se propõe olhar para os problemas atuais do DF pensando soluções e encaminhamentos para esses desafios em um futuro próximo.
Outra iniciativa foi o lançamento, em parceria com a Secretaria de Planejamento, do site Brasília em Números. O portal traz informações e estatísticas georreferenciadas pro DF com dados atuais coletados pela Codeplan, mas também de outras fontes. Os dados estão em um display gráfico de fácil entendimento e agradável para uma população que não seja especialista na temática.
O que o senhor enxerga para o futuro de Brasília em relação à mobilidade urbana? No futuro, corremos o risco de sermos comparados a cidades como São Paulo?
A questão da mobilidade urbana é central no país e certamente no DF. Apesar de termos percebido nas nossas pesquisas que há padrões de circulação das pessoas entre as Regiões Administrativas e não apenas para o centro, é claro que há ainda uma boa parte da população do DF vindo para o centro devido à oferta de emprego (principalmente empregos formais), saúde e educação no centro de Brasília. É inevitável que as pessoas venham para o Plano Piloto.
Brasília hoje está muito distante de cidades como São Paulo ou Rio. Por exemplo, não perdemos um dia inteiro para ir ao médico, como ocorre em outros grandes centros urbanos do país. Mas para melhorar o cenário devem ser criados mecanismos que deixem o automóvel menos atraente.
Texto, foto e vídeo: Comunicação Social do Projeto Brasília 2060
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