Integrante da equipe de mobilidade urbana do Projeto Brasília 2060 fala sobre os desafios no âmbito da AMB
“Os grandes centros urbanos são dinâmicos e exigem soluções inovadoras para as constantes mudanças pelas quais passam as grandes cidades. A gestão do sistema de mobilidade requer que haja comunicação entre os diversos órgãos públicos responsáveis pela área da mobilidade”, afirma Alessandro Silva Barbosa, analista de transportes urbanos e um dos integrantes da equipe de mobilidade urbana do Projeto Brasília 2060.
Como explica Alessandro em entrevista para o site do Projeto Brasília 2060, a mobilidade urbana nas cidades brasileiras tem sido amplamente debatida entre especialistas em transporte, instituições públicas e privadas e a sociedade em geral. A difícil condição de deslocamento da população no espaço geográfico das cidades é um grande obstáculo a ser enfrentado pelos gestores públicos do Brasil.
Na entrevista, Alessandro explica que a Área Metropolitana de Brasília (AMB), que também possui um cenário preocupante, é o objeto de estudo da equipe da área temática de Mobilidade Urbana do Projeto Brasília 2060, coordenado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). Confira!
Projeto Brasília 2060 – Como foi o processo de produção das linhas de base e das opções estratégicas realizadas no âmbito do Projeto Brasília 2060?
Alessandro Silva Barbosa – A produção da linha de base da área de mobilidade urbana foi um grande desafio para a equipe. Havia um farto volume de dados sobre determinados aspectos associados à mobilidade urbana do Distrito Federal e de sua área metropolitana, como é o caso do transporte público coletivo e do sistema metroviário da capital. As informações referentes à AMB praticamente inexistiam. Soma-se a isso a necessidade de sistematizar e analisar os dados disponíveis, pois estavam dispersos e sem uma visão de conjunto. O desafio se tornou ainda maior diante da baixa produção acadêmica, resultando em poucas pesquisas na área da mobilidade urbana da AMB.
As opções estratégicas tiveram como referência a elaboração da linha de base, que traçou um panorama da situação da mobilidade urbana no DF. A própria dificuldade de acessar informações fidedignas referentes ao sistema de mobilidade da AMB norteou a definição das opções estratégicas que foram discutidas durante o workshop. A discussão sobre mobilidade e sistemas de informação ao cidadão teve como pauta a necessidade de disponibilizar informações organizadas sobre o sistema de mobilidade do DF e de sua área metropolitana mediante ferramentas exequíveis ao cidadão-usuário e ao cidadão-pesquisador. A expectativa é que a disponibilidade desses dados sirva para retroalimentar o próprio sistema de mobilidade, primando pela qualidade do serviço prestado aos usuários.
Os arranjos institucionais e a gestão dos transportes e da mobilidade foram pensados enquanto opção estratégica da área de mobilidade, pois é consenso entre planejadores de transporte e pesquisadores da área que um dos principais gargalos para a oferta de um sistema de mobilidade urbano adequado e com qualidade depende da postura do poder público em relação à questão. A gestão compartilhada pela área metropolitana de Brasília para evitar sobreposição de ações e, assim, otimizar a gestão dos transportes e da mobilidade, é essencial para garantir qualidade na prestação dos serviços de mobilidade à população.
Por fim, a organização do espaço urbano e da infraestrutura de transportes e da mobilidade foi pensada enquanto opção estratégica em função da necessidade de se elaborar o sistema de transportes e da mobilidade urbana da Área Metropolitana de Brasília de forma integrada ao território. Desse modo, é preciso uma sinergia entre o sistema de mobilidade urbana e o planejamento urbano e regional da cidade, uma vez que os transportes e a mobilidade podem e devem se apresentar como indutores do desenvolvimento urbano e, por conseguinte, da própria cidade.
A organização e a gestão do espaço urbano devem ser pensadas no sentido de reordenar o território da cidade a fim de reverter a lógica atual da estrutura de mobilidade vigente, estimulando a criação de subcentros regionais e dinâmicos, na estruturação em médio e longo prazo de uma área metropolitana mais dinâmica, uma cidade polinucleada que levaria a uma consequente melhora do sistema de mobilidade urbana da região.
PB 2060 – O transporte público da AMB passa por problemas de gestão, infraestrutura e organização. O que o senhor pode comentar sobre essas questões?
Alessandro Barbosa – É importante ressaltar que esses desafios não são exclusividade da área metropolitana brasiliense. Os grandes centros urbanos são dinâmicos e exigem soluções inovadoras para as constantes mudanças pelas quais passam as grandes cidades. A gestão do sistema de mobilidade requer que haja comunicação entre os diversos órgãos públicos responsáveis pela área da mobilidade. A infraestrutura demanda investimentos públicos, os quais, a depender do projeto em questão, carecem de vultosos recursos financeiros para se viabilizar. A organização da mobilidade depende da articulação em nível governamental entre os diversos órgãos da mobilidade urbana. Essas três questões são enfrentadas pela maioria das cidades.
Duas delas, organização e gestão, são minimizadas ou solucionadas com aplicação de novos mecanismos administrativos que atuam no sentido de melhorar o sistema de mobilidade. Já o fator infraestrutura, que depende de recursos financeiros, por exemplo, para viabilizar projetos como metrô, corredores de BRTs ou novas tecnologias para a área da mobilidade, nem sempre encontra recursos disponíveis. Mas ainda assim é possível priorizar o sistema de mobilidade da cidade sem necessariamente gastar grandes somas de recursos. Um exemplo são os corredores de transporte públicos feitos a partir da infraestrutura já instalada, que priorizam o transporte público permitindo mais eficiência e qualidade.
PB 2060 – Quais são os principais e mais urgentes desafios no deslocamento da população na AMB?
Alessandro Barbosa – Esses desafios estão associados às opções estratégicas delineadas e discutidas no workshop de mobilidade do Ibict. Há soluções de curto prazo que não demandam grandes somas de recursos financeiros associadas. Para isso é preciso uma mudança de mentalidade da população e do próprio estado, no sentido de priorizar modais de uso coletivo para o sistema de mobilidade urbana da cidade. Uma delas é em relação à gestão integrada e articulada entre os entes federativos, evitando assim sobreposição de ações governamentais na área da mobilidade urbana. É importante ressaltar que essa gestão precisa ter em mente a prestação de serviço de qualidade voltado para o cidadão-usuário.
Outra medida é em relação ao acesso à informação referente ao sistema de mobilidade: informações confiáveis e acessíveis ao cidadão-usuário para que ele passe a dar credibilidade ao sistema de mobilidade. Para isso, a gestão da mobilidade precisa funcionar com uma efetiva fiscalização a respeito do efetivo cumprimento dos horários do transporte público por parte das empresas concessionárias. Criação de corredores de transporte público em vias de grande movimento, dando assim maior agilidade aos ônibus em relação ao transporte individual. Um exemplo bem-sucedido nesta direção foi à criação do corredor da EPNB, que, depois de implementado, passou a receber mais passageiros e aumentou a frequência da circulação de ônibus. Ou seja, houve migração do transporte individual para o transporte público, fenômeno que vai contra ao que ocorre em toda a AMB, em que há o contrário, cada vez maior migração do transporte público para o transporte individual em razão da baixa qualidade e lentidão do primeiro.
Comunicação Social do Projeto Brasília 2060
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